Diversidade da mulher brasileira: loiras

Gente, o G1 surtou.

Foi piada de mau gosto ou acordaram virado no Gyraia. Publicaram há dias atrás uma foto com legenda espetacular sobre as bailarinas do Faustão.

Aparentemente parece que a diversidade da mulher brasileira consta na técnica de clareamento que é usada no cabelo, ou nos cortes, não sei. São várias mulheres no mesmo padrão fitness maromba, loiras, brancas ou quase lá.

Incrível afirmar essa diversidade de mulheres ~loiras~ em um país onde mais da metade da população é negra. Isso mostra como a mídia enxerga a mulher negra –ou melhor-  simplesmente não enxerga.

Isso não é nem descaso, é racismo!

Passei a infância e a juventude a procura de representatividade. Não me enxergava em desenhos, seriados em personagens protagonistas e raramente em alguma coadjuvante, a população negra raramente era lembrada, a mulher negra ofuscada, quando citada ocupava – e ainda ocupa- os cargos mais pesados de menores salários ou de submissão. Nunca ouve desenhos ou seriados que representassem a infância da garota negra, mas também que infância? Poucas delas teriam tempo para assistir e fantasiar histórias, já que sua infância, geralmente, era/é ocupada por atividades domesticas para ajudar a mãe que se desdobra em dois trabalhos, tarefas doméstica e filhos.  (Mães geralmente negras, guerreiras e também esquecidas pelo entretenimento).

Durante minha adolescência desejei mudar, não nego.
Fui tentada a alisar, clarear os cabelos, as axilas e tudo que fosse possível para ficar mais bonita, até pouco tempo atrás não sabia que havia beleza negra, não sabia nem o que era belo. Incrível olhar para trás e ver do que a mídia é capaz. Eu temia em entrar para a lista de garotas mais feias da escola, claro que a minha insegurança era só o reflexo de tudo aquilo que ninguém, mídia alguma, reconheceu. E eu, com pouca idade não abri meus olhos para enxergar tudo que havia fora desses padrões todos que me impuseram por toda a adolescência.

Durante a minha sétima série eu tive o start ao ver uma garota negra, linda e de apenas oito anos, sofrer racismo de todas suas “companheiras” loiras de classe. (essa diversidade aí da globo).

Devido algumas respostas criativas que dei a uma revista da editora abril eu participei de uma de suas matérias, com direito a foto escrota e tudo. Depois disso a coordenadora da escola me convidou para participar de reuniões com a turma da segunda série. E nessa reunião eu abri os olhos para “o racismo não existe no Brasil”. A garota tinha apenas 8 anos, e claro, não sabia lidar com todas essas questões de padrão e imposição.

Ela foi criticada, massacrada e exposta apenas por existir, por ser negra. Era incrível ver a quantidade de críticas e a cara de nojo que olhavam para ela. Era cerca de doze crianças de 8 anos contra uma. Ela chegou ao extremo e tentava se clarear com banhos de água sanitária.

Essa história partiu meu coração, e eu estava ali para servir de exemplo e para representa-la, sendo que nem mesmo eu havia me aceitado ou havia enxergado o quão de beleza havia em nós.

Eu precisei ser forte, engolir a seco tudo que me fizeram acreditar durante o passar do tempo e apoiar a garota, eu tinha que dizer o quanto ela era linda e incrível e que poderia ser quem ela quisesse independente do que dissessem. E dizer a ela que o chororô das brancas não podiam fazê-la desistir e nem se ferir, não valia a pena e já sofremos tanto por sermos nós.

No fim das reuniões, simplesmente porque eu estava estampada numa foto de uma revista teen as loiras diziam querer ter meu cabelo, minha cor e tudo que criticaram na negra. Naquela época eu não sabia o que fazer ou o que falar, nem com que armas lutar contra isso.  Tentei com a minha presença demonstrar força e por dentro eu só estava despedaçada.

Se tudo isso ocorresse hoje, eu tomaria as rédeas do sermão e a primeira coisa que falaria para aquela garota ou qualquer outra que sofre com isso é:  Não aceite que imponham em você o padrão globo de beleza. Não aceite que digam que você não existe ou que não vale o mesmo que as outras.

Não aceite que desconte em você as inverdades do que é belo e principalmente não acredite nisso. Moça, você é linda e representa muito mais que a diversidade loira da TV, você representa uma luta, uma resistência e uma nação. Talvez, a pobre garota de 8 anos não entendesse nada do que eu falei, porem hoje, depois dessa publicação do G1, acredito que algumas garotas me entendam e enxerguem que sua representação não estará nas revistas, livros e TV, nossa luta ainda nem começou.

“Cês diz que nosso pau é grande Espera até ver nosso ódio”